"Quero poder andar por ai.Conhecer lugares e pessoas. Quero amar e dizer que o amor não é apenas um conto, Mais uma realidade."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Um anjo! Uma escolha!


Sei o que vi naquele cemitério no dia que enterramos a vovó.
O dia estava cinzento como se também estivesse triste. Tinha chovido durante toda a manhã e o cheiro de terra e folhas molhadas foi a única coisa que senti durante todo o tempo que estive ali naquele lugar.
Era estranho ver minha vó naquela caixa de madeira toda encolhida e rodeada de flores.
Nas primeiras horas não quis ficar perto dela. E Fazia de tudo para não olhar para o caixão.
Era estranho a ver tão branca, tão acabada e tão longe de mim como estava agora.
Totalmente diferente daquela mulher alta, forte com braços longos que nunca deixava escapar nada de seus olhos.
Que me ensinou a bordar sem eu nunca ter aprendido direito e sempre detestar.
Quem me ensinou a escrever e que eu nunca mais deixei de fazer.
A única pessoa que um dia me tocou por um dia eu deixar escapar sem querer um palavrão e nunca mais repetir.
Tinha ainda na boca o gosto e o cheiro de canela dos bolinhos que ela fizera no final de semana.
No rosto o beijo quente que ela me dera antes de partir aquela tarde.
E no ouvido o grito de mamãe quando atendeu o telefone do hospital naquela mesma madrugada depois de saber que sua mãe tinha morrido.
Tinha aprendido cedo a dor da morte e da perda quando ela veio um dia e levou meu pai.
Naquele dia enquanto minha mãe me procurava pelo cemitério e acabou me achando horas mais tarde sentada diante do túmulo do meu pai. Presenciei o desconhecido.
Horas mais tarde já dentro do carro enquanto saiamos do cemitério. Voltávamos para casa contei para mamãe o que tinha visto, mais ela apenas sorriu daquele jeito que fazia quando falava bobagens e me disse que aquilo era apenas uma imagem de gesso.
Não toquei mais no assunto, mais lá dentro de mim eu via aquela imagem todos os dias, em todos os lugares eu a procurava e a procurei.
Talvez minha mãe estivesse certa quando me disse que eu devia esquecer pois eles têm em todos os cemitérios. E que sempre são os mesmos.
Mais sei que não era só aquilo. Aquela imagem não era como as outras que tinham ao redor e como nenhuma outra que vi de monte durante vários anos.
Aquela era diferente.
Durante muito tempo levei aquela imagem comigo para todos os lugares que fui. A levava quando ia dormir, quando ia para escola, quando me casei e muito tempo depois quando já não mais me lembrava de mais nada a não ser naquela imagem. Voltei aquele cemitério anos mais tarde, sozinha e como sabia ela não estava lá.
Não estava por que ela nunca esteve ali.
Sei que não era apenas uma imagem de gesso que estava sentado em cima daquela lápide.
Pois uma imagem não chora, uma imagem não pisca, uma imagem não voa.
Acreditei nisso. Até o dia que o vi de novo.
Nesse dia não estava mais num cemitério, não tinha a minha mãe do lado pois ela já tinha partido há muito tempo.
Eu tinha um marido, tinha filhos, tinha um emprego, tinha uma vida.
E tudo pareceu não mais existir, não mais importar.
Por que eu a vi mais uma vez, e dessa vez ela demorou o tempo suficiente para me fazer escolher entre a vida e a morte.
A escolha que fiz sei que era diferente daquela que ela me dizia.
Mais mesmo assim escolhi.

2 comentários:

Unknown disse...

Achei a mensagem muito interessante.Comumente ocorrem casos em que alguém vê algo, mas ninguém acredita na pessoa...Isso faz até mesmo com que a própria pessoa desacredite nos próprios olhos.Infelizmente a sensibilidade que sobra em alguns, falta (e muito) em outros.
Beijos!
By: Amanda Calian

Angélica disse...

Oi
Obrigado por visitar meu blog =)
que bom que gostou, tbem achei muito interessante o que escreves.
adorei as histórias!