POÇO!!!!!!

Às vezes me sento na borda desse poço
Buraco profundo, que abro todos os dias sem perceber
Fico olhando para seu fundo escuro, sem vida
Por mais que esforço a visão só enxergo esse desconhecido
Esse negro que se estende sem fim lá embaixo
Há horas que sou tentado a me atirar
E me vejo caindo
Ouço meu corpo voando
Girando no ar
Ganhando cada vez mais aquelas profundezas
Abraçando essa escuridão fria
Ouço o barulho dele contras as águas escuras desse poço
Queda forte, que machuca meus músculos, me deixa tonto
Me faz gemer de dor, a pedir socorro
Estou então imerso nessas águas turvas,
Mergulhado em águas sujas e fétidas
A respiração torna-se ofegante,
O corpo todo treme, a visão se embaça
Preciso respirar, subir para superfície
Preciso alcançar novamente o topo
Agito os braços na tentativa de encontrar algo em que agarrar
Grito, mais a voz bate nas paredes lisas e voltam para mim
Não quero afundar
Não quero morrer aqui, nessa escuridão perturbadora
Cheiro estranho, de velho, de podridão, de sofrimento
Que inalo, e sinto vontade de cuspir
Olho para cima e vejo a luz fraca que entra
Pálidos raios que mal iluminam o topo,
Mais como braços finos se estendem para mim
Então me vejo escalando aquelas paredes
Surge fendas onde encaixo mãos e pés
São meus sonhos que seguro e que me ajuda a subir
Vou subindo, deixando escorrer do meu corpo aquela água suja
São meus medos, meus obstáculos que escorrem pelo meu corpo
Alcanço o topo
E lá mãos firmes agarram as minhas,
Dedos que apertam com força a carne dos meus braços
Me puxam de dentro do poço
Me oferecem uma toalha seca
Me abraçam,
E sussurra no meu ouvido palavras que entram no meu coração
“Você conseguiu sair do fundo do poço”