"Quero poder andar por ai.Conhecer lugares e pessoas. Quero amar e dizer que o amor não é apenas um conto, Mais uma realidade."

domingo, 22 de março de 2009

MEMÓRIAS DE UMA ASSASSINA (Continuação)

Muitas vezes a sensação que sentia era como se tivesse me entregado toda ao universo. Era como se a cada minuto uma estrela surgisse lá em cima, e eu fosse esta estrela, e que brilhasse com toda a intensidade que uma estrela deve brilhar, mais esse brilho durava pouco, então entendia que um buraco negro tinha se aproximado, talvez ele sempre tivesse estado ali, mais só agora o via, ele se chamava solidão... tinha chegado a hora de lutar.....
(Palavras de uma pessoa que aprendeu um jeito de se encontrar)

“Ana Luisa” a voz lhe fez voltar para seu quarto.
Estava lembrando dos cobertores ainda desarrumados sobre a cama...dos travesseiros jogados no chão...da roupa espalhada pela casa...dos beijos...dos toques...
E depois horas mais tarde naquela mesma noite quando mais uma vez tinha se entregado, feito todo o ritual de contar seus segredos, suas vontades e seus planos....ouviu como se fosse a própria voz da tempestade falando às palavras que ela conhecia tão bem, e que mais uma vez desabava sobre ela;
“Não voltarei mais”
Não dormiu aquela noite, fechava os olhos mais o sono não vinha.
Vinha como sempre nessas horas outra coisa, a vontade de se atirar ali de cima.
De se jogar do quarto e deixar que seu corpo se espatifasse lá embaixo na avenida....assim ele aprenderia a não mais se entregar....aprenderia a viver sem a necessidade de outras mãos, pernas...aprenderia a não ter sempre outro corpo sobre o seu.....
Ouviu quando ele levantou, quando foi ate o banheiro. Ligou o chuveiro...o barulho da água caindo do seu corpo no chão, a água misturada ao suor que tinham feito ao se entregarem horas antes um a o outro indo para o ralo.... ouviu quando atravessou a sala, quando fechou a porta e depois mais nada...apenas seus soluços pelo quarto...apenas aquela dor a sufocando....apertando sua garganta...a maltratando....
Por um instante pensou em tirar a própria vida. Se matar ali mesmo, mais não tinha coragem...sempre fora covarde...o mínimo que conseguira fazer uma vez foi um pequeno arranhão no pulso com uma gilete...para passar o dia todo caída no chão chorando pela sua falta de coragem....pelo seu medo...pelo sangue na pia... pela sua vida.....
“Ana Luisa de Almeida”
Ela acorda do seu devaneio, vira-se para a atendente no balcão, esta lhe olha com certo receio estampado na cara por ter a chamado pela segunda vez.
Num murmúrio pede desculpa e levanta...
Minutos antes enquanto ainda cruzava a sala a atendente tinha lhe olhado com um olhar como se pudesse saber o que ia dentro dela....sentiu medo, e se segurou para não voltar para trás...sabia o poder deste olhar....e mesmo que só queiram ajudar não queria agora falar como estava destroçada por dentro, como estava estilhaçada por causa de mais um amor que acreditava ser verdadeiro e que acabou sendo mais um droga, mais um dentre vários outros que colecionara na sua vida...sentiu medo daquele olhar.. olhar que não precisa de palavras, nem de sons, ela já tinha encontrado com aquele olhar em outras ocasiões...pessoas deste tipo já tinham cruzado a sua vida.... pessoas para que você não precisa falar nada, não precisa dizer uma só palavra, pois elas escutam sua alma, ouvem a dor que lhe aflige antes mesmo que a primeira lagrima comesse a escorrer pelo rosto...antes que o grito de socorro saia pela boca...e isto é o suficiente para saberem o que você esta precisando naquele momento.
Mais ela viu depois de um certo tempo quando entregou sua ficha que tinha se enganado, a atendente não era uma dessas pessoas especiais.
Era como ela...uma pessoa comum....
A atendente indica com a mão a porta, ela caminha para lá.
Olha enquanto caminha com passos duros, fortes (dentro de si, sente-se um verdadeiro castelo de cartas que a qualquer momento desmoronara, vira a baixo com apenas um sopro mais forte, havia chorado durante toda a noite e metade da manha e foi um sacrifico imenso ter escondido as olheiras, ter sumido com os olhos vermelhos...por varias vezes quis desistir daquela entrevista...não estava disposta a falar de si, de seus planos e seus sonhos...já que muitos deles sempre acabavam antes mesmo de começar... tombavam antes mesmo de sair do chão...mais não podia desistir...era uma empresa grande e prestigiada e justamente na área que ela tanto queria...estava procurando por aquela oportunidade há meses e mesmo agora num dia que o que mais queria era ficar em casa, embaixo do cobertor...ou ir para um bar qualquer e beber...enfiar álcool no seu corpo ate ele gritar para parar....não podia deixar escapar essa chance...não podia...mesmo que para isso tivesse que arrastar para fora da cama seu próprio corpo...e junto com ele toda aquela imensa dor que tinha ficado durante toda a noite lado a lado com ela).
Mais ali naquela sala ninguém parecia perceber, ninguém notava que ela estava arrastando uma dor atrás de si...só viam apenas uma mulher caminhando para uma porta onde ali dentro sentaria numa cadeira, cruzaria as pernas, olharia para a pessoa que lhe faria a entrevista e responderia as perguntas que este faria.
Enquanto caminha pensa como a vida é cruel e injusta...mesmo ali quase não aguentando mais ficar em pé...quase caindo com as feridas abertas em seu corpo... com as dores latejantes na alma....a vida continua a seguir, a ir em frente como se nada tivesse acontecido...
Nas ruas via as pessoas passarem por ela...umas felizes, sorrindo, para estas hoje era um dia bom, talvez tinham acabado de deixar a pessoa que amam na cama, no trabalho na escola....para estas o amor ainda continuava agir...ainda faziam parte de suas vidas... mesmo sabendo que para algumas destas uma hora tudo virá a tona e perceberão que o amor é apenas ilusão....assim como ela sofrerão...derramarão lágrimas....se verão em um abismo de sofrimentos e dores...
Outras mais sérias apenas andavam, passavam por ela, eram levadas por seus pés para onde deviam ir...por que é assim a vida, tendo que sempre nos obrigar a fazer o que não queremos... viam como todas pessoas seguiam suas vidas....indiferentes com a dor que ela carregava presa as suas mãos....
No céu claro e azul brilhava um sol majestoso...as aves cantavam....ouvia sorrisos ao longe...o barulho de felicidade mesmo sendo pequeno chegando ate seus ouvidos....tudo ao contrario do que sentia... enquanto dentro dela desabava uma tempestade pesada, uma fúria que destruía tudo...matando tudo que se encontrava pela frente.....como podia a vida continuar se ela estava parada...como podia seguir se ela estava imóvel....
Olha a saia que esta usando. Uma saia que vai ate seus joelhos, cobre-os deixando somente um pedaço de suas pernas nuas. Repara como suas pernas estão brancas, e que precisa o mais rápido possível de uma depilação. Esta usando um sapato de salto alto, e enquanto anda o salto vai trotrotando no piso, fazendo aquele barulho irritante...
Lembra-se mais uma vez da noite anterior...mais faz de tudo para que o pensamento saia de sua cabeça....que suma de seu coração....precisa pensar em outra coisa...precisa urgentemente antes que aquilo bote tudo a perder...
E quando entra na sala vê que a pessoa que a espera é um homem.
Por um segundo o que vem a sua cabeça é dar um tapa no seu rosto, descontar nele a dor que sente por outros homens que passaram na sua vida e a machucaram...e por uma vez bater e não apanhar...
Por que tem que sem entregar tanto a eles?
Por que dar tanto amor quando não se ganha nem metade de volta?
Segue o roteiro...fala seu nome...fala o que espera da empresa...o que ela pode fazer ali dentro....o homem faz perguntas...se já trabalhou em outras empresas....se é casada....se mora sozinha....o que gosta de fazer...se já viajou....e assim ela vai se entregando mais uma vez....e mais uma vez para um desconhecido...
Quando acaba a entrevista e se encontra no meio da rua percebe que não foi boa o suficiente...não fez seu melhor...e por isso se não ganhar aquela vaga saberá que foi por sua culpa...unicamente por sua culpa....
“Ela não merece nada”, fala uma voz ao seu lado
“Claro que merece”, responde imediatamente a outra voz que vem de dentro de dela
“Ela nunca terá o que procura” continua a voz ao seu lado
“O que sabe sobre nossa procura, o que sabe dela, quem é você?” Pergunta a voz dentro de dela
“Sou o único que pode dar a ela a paz” fala a voz
Ana percebe que a voz que tanto fala dentro de si não responde mais.
Quem será aquela voz que fez calar a outra que sempre carregou dentro de si?

7 comentários:

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Oi, Ademerson!

Já estou visitando o seu blog e adorei os textos. Parabéns!

Me identifiquei bastante com as coisas que escreveu: o seu profile, as palavras sobre o medo... Muito legais!

Voltarei sempre por aqui. Quero ler tudo com atenção!

Te espero mais vezes lá na minha torre, OK!?

Abração forte e obrigado pela visita!

Pedro Antônio - A TORRE MÁGICA - www.atorremagica.blogspot.com

* Patty Meirelles * disse...

Olá querido!! Como vai?

Então, vim conhecer o teu espaço e agrdecer o carinho de suas palavras.

Espero q volte mais vezes em meus blogs. Seus comentários serão sempre bem vindos!

Prometo voltar aqui com mais tempo e comentar tmbm sobre seus textos.

Desejo-te uma semana abençoada!

Bjs no coração

' Joseαne Costα* disse...

Oii...tudo bem?!
Te achei através do blog do Pedro Antônio, saibas q seus textos são lindos, voltarei mais vezes para ler com calma, resolvi ser sua seguidora, se quiser pode dar uma passadinho no meu ok?!
Meus Parabéns pelo seu blog^^
Grande abraçoo \\*

=]*

Marcela disse...

Oi!! Seja mto bem vindo ao meu blog, obrigada pela sua visita, volte sempre!!
Parabéns pelo seu blog é ótimo!!

Uma ótima semana pra vc!!!

Bjs

Fabricante de Sonhos disse...

Olá!

Olha... me errepiei com suas palavras...

Menino... Vc escreve muito, heim!
tem o dom de SER o dom!

Vai escrever um livro? Espero que escreva sim!

Parabéns mesmo! De verdade!

Ó, uma ótima semana pra vc, viu?!

Beijos!

Fabricante...

Lita disse...

Olá!
Vim retribuir a visita ao meu canto e acabei por me fascinar com as palavras aqui escritas.
Parabéns, muitos!!!!
Vou regressar.

Isabel Leon disse...

Oi Ademerson,

Caramba, como sofre a Ana! A ponto de querer se matar, de perder as esperanças, de buscar desesperadamente um amor onde acredita que viva sua felicidade.
E essa voz, meu Deus?!
To curiosa, esperando a 3° parte.

Abraços
Isabel
www.grupomaos.com
Questionando a mente para elevar a alma...